Tentemos imaginar uma Igreja repleta de Cristo, transbordando Sua presença e poder. Não é tão difícil, certo? Não é essa, afinal, a forma costumeira — até imemorial — de nos referirmos à Esposa e Corpo de Cristo? E ela não se vê, em conformidade, situada ao longo de um contínuo que se estende do tempo à eternidade, uma linha ininterrupta de horizonte entre a Terra e o Céu? E, a partir de um, ela nos chama a entrar no outro, mergulhando de cabeça em um abismo de mistério absoluto, cujas profundezas desafiam nossos melhores esforços de compreensão. Assim tem sido a compreensão que ela tem de si mesma desde o princípio. “Uma vasta empresa de transportes conduzindo passageiros ao Paraíso”, é como Georges Bernanos a descreveu em um ensaio escrito perto do fim da vida.
Dito isso, como ela faz isso? Como, exatamente, a Igreja pretende levar Cristo ao mundo, demonstrando Sua presença entre os homens para então conduzi-los de volta ao Céu? Suponhamos que todos tenhamos sido confirmados na fé, nossos corações fortalecidos na esperança e no amor de Jesus Cristo. De que maneira espera-se que testemunhemos esse tesouro que possuímos? Como, exatamente, nossas energias devem ser engajadas no esforço de converter o mundo a Cristo?
Como, exatamente, a Igreja pretende levar Cristo ao mundo, demonstrando Sua presença entre os homens para então conduzi-los de volta ao Céu?
A resposta, é claro, é sacramentalizando o mundo, elevando-o à dignidade do próprio Cristo. Em uma palavra, mergulhando tudo no Sangue do Cordeiro.
Desde a manhã de Pentecostes, a Igreja tem, ao longo dos séculos, desenvolvido basicamente duas estratégias com esse fim, das quais não podemos abrir mão. A primeira é a evangelização, sobre a qual todo cristão sabe alguma coisa. E o que sabemos? Quero dizer, no nível mais fundamental? Mais uma vez, a resposta é simples e direta: fomos comissionados pelo próprio Cristo para essa tarefa. E isso significa sair e proclamar a Boa Nova de Jesus a todo ser humano do planeta. Se Ele veio ao mundo para redimir tudo e todos, então ninguém pode escapar dessa rede evangelizadora. Devemos todos nos tornar pescadores de homens.
Por que mais a Cruz tem o formato que tem, com os braços estendidos aos quatro ventos? A própria madeira na qual o Verbo Eterno consentiu em ser preso comunica universalidade; ela deve ser sinal de expansão, de solidariedade e de parentesco com todos os filhos dos homens. Portanto, somos impelidos — exortados pela necessidade evangélica, nada menos — a atrair todos os homens a Deus, e fazemos isso por meio da Igreja que Ele mesmo moldou como uma extensão de Si, conduzindo o mundo de volta ao Pai.
Algumas imagens vêm à mente aqui, cada uma expressando essa ideia, essa relação entre Cristo e Sua Igreja. A primeira é a de uma estrada, uma via real, traçando o caminho que a Igreja deve seguir para que toda a raça humana encontre o caminho de volta para Deus. A Igreja é, ela mesma, essa estrada, ao longo da qual carrega Cristo, levando Seu corpo para que todos vejam.
Imediatamente, isso sugere outra imagem: a de uma janela escancarada diante do mundo. A Igreja deve ser essa janela. E através do prisma de sua transparência, somos convidados a ver o rosto de Deus brilhando sobre a face de cada pessoa que encontramos — talvez até mesmo daquelas que não desejamos encontrar. Os pobres e os despossuídos, por exemplo. Aqueles de quem desviamos o olhar porque, sendo pouco amáveis ou pouco amorosos, permanecem sem amor.
No entanto, Cristo os ama — o que é mais um motivo para que também os amemos. E, portanto, lhes demos o melhor presente que temos. “Pois Cristo brinca em dez mil lugares”, nos recorda o poeta Hopkins. “Belo nos membros, e belo em olhos que não são seus / Ao Pai através dos traços do rosto dos homens.”
Amar como Cristo ama, admitamos, não é algo fácil — e por isso, tantas vezes preferimos o sentimentalismo e a encenação suave que se disfarça de amor. Não aquele “coisa dura e terrível”, de que fala Dostoiévski; nem aquele “Senhor de terrível aspecto”, sobre quem Dante escreve na última linha do Paraíso: “o Amor que move o sol, as estrelas e os planetas.”
Os pobres estão em toda parte, claro. Mas para que os encontremos mais facilmente — e não evitemos sua companhia — Cristo os confiou especificamente à Sua Igreja. É ela quem cuida deles, vendo neles o reflexo mais claro da própria pobreza de Cristo. Como fez, por exemplo, o diácono Lourenço, que, ao ser ordenado pelo prefeito de Roma a entregar o tesouro da Igreja para confisco, apresentou todos os pobres da cidade. Roma pagã não achou graça no gesto; e por isso, assaram o pobre homem em uma grelha feita para sua diversão.
Mas onde mais encontraríamos a riqueza da Igreja, senão entre os pobres, com todos aqueles com quem Cristo se identifica da forma mais direta e escandalosa? Tal como Ele se identificou com eles quando certo zelote judeu chamado Saulo procurava persegui-los e destruí-los. Cristo precisou primeiro derrubá-lo de seu cavalo para que a graça da conversão pudesse operar sua magia.
Ou o exemplo do próprio “Il Povero”, Francisco de Assis, que beijava as feridas de tantos leprosos porque em cada uma via a figura de Cristo Crucificado. É esse mesmo “disfarce angustiante” que as Missionárias da Caridade, de Madre Teresa, continuam a buscar em sua missão altruísta de fazer algo belo para Deus.
E onde mais, senão em Jesus, encontramos o modelo, o protótipo do testemunho evangélico? Aquele que passou seus dias vasculhando as ruas e caminhos da Judeia em busca das ovelhas perdidas de Israel. Ele não estava engajado em fazer grandes gestos de reforma macroeconômica. Ele procurava, antes, um pecador miserável por vez para levar de volta ao Pai.
Somos todos mendigos diante do Senhor, com as mãos estendidas para receber o que não podemos dar. “Estende tua mão”, pedimos, “para curar nossa ferida, / E faze-nos levantar e não mais cair; / Uma vez mais brilha sobre Teu povo, / E enche o mundo com amor divino.”
Essa é a missão que mais convém à Esposa e Corpo de Cristo. Mas não, como veremos, a única.






