Desde os tempos antigos, a filosofia perene sempre entendeu que a beleza está intrinsecamente ligada ao ser. Santo Tomás de Aquino, ao ecoar a tradição platônica e aristotélica, ensina que “o belo é aquilo cuja contemplação agrada” (Suma Teológica I, q. 5, a. 4, ad 1), e que esta alegria nasce da conformidade das partes entre si e com o fim, ou seja, da harmonia e da proporção. A música clássica, especialmente em sua forma sacra — como nas obras de Palestrina, Bach ou Mozart — encarna esta harmonia invisível em sons audíveis, conduzindo a alma a uma experiência análoga ao Céu.

O diabo, criatura decaída e deformada, abomina tudo o que recorda a ordem do ser e, por conseguinte, a glória de Deus. O seu ódio à música clássica não é uma questão de gosto ou estilo, mas uma consequência ontológica da sua aversão ao Logos — o Verbo eterno por meio de quem tudo foi criado (cf. Jo 1,3). Toda música que exprime o Logos — ou seja, a racionalidade ordenada, a beleza luminosa e a harmonia espiritual — lhe é insuportável.

A Música e o Combate Espiritual

É significativo que, nas Escrituras, a música esteja frequentemente associada ao culto divino e à vitória sobre os demônios. Davi, com sua harpa, aliviava o tormento espiritual do rei Saul (cf. 1Sm 16,23), o que a tradição interpreta como uma ação de exorcismo simbólico. Santo Atanásio afirma: “Os salmos [...] expulsam os demônios e quebram suas tramas” (Carta a Marcelino). A música, quando impregnada de ordem espiritual, torna-se uma forma de combate — uma espada sonora contra os principados do mal.

O demônio odeia a música clássica porque ela evoca o som da Criação em estado de graça. A polifonia sagrada, por exemplo, representa em som o que Santo Agostinho chamava de ordo amoris — a justa ordenação dos amores. Por isso, é compreensível que em ambientes marcados pela presença demoníaca ou por influência de ocultismo, a música clássica cause incômodo, irritação ou mesmo repulsa.

O Espírito da Revolta e a Morte da Harmonia

O espírito da modernidade, dominado pelo subjetivismo, pelo niilismo e pela rebelião contra a natureza, produziu uma estética que reflete o caos interior da alma contemporânea. Músicas baseadas em ritmos dissonantes, letras niilistas ou erotizadas, e performances histéricas são apenas manifestações sensíveis do grito de Lúcifer: “Non serviam”. Nesse contexto, a música clássica aparece como um testemunho de outra ordem — transcendente, objetiva, hierárquica — e, por isso, se torna alvo de desprezo.

A beleza clássica é uma afronta direta ao diabo porque o lembra da harmonia celeste da qual foi excluído por sua rebelião. Em sua ânsia de arrastar o homem à desfiguração, ele promove estéticas degradadas, porque sabe que a música bela eleva a alma a Deus e, como dizia Platão,

“a música é um instrumento mais potente do que qualquer outro para a educação e a formação do caráter” (A República, III).

A Liturgia como Sinfonia do Céu

A música sacra, especialmente o canto gregoriano e a polifonia clássica, ocupa um lugar privilegiado na tradição da Igreja porque reflete a liturgia celeste: “Vi o céu aberto e ouvi uma voz como de muitas águas, como o som de trovões, e como de harpistas tocando suas harpas” (cf. Ap 14,2). O Concílio Vaticano II, em sua Constituição Sacrosanctum Concilium, afirma: “A Igreja reconhece o canto gregoriano como próprio da liturgia romana” (SC, 116). Essa música, longe de ser um mero adorno, participa do Mistério celebrado, e por isso o diabo a odeia com especial intensidade.

Assim como há imagens que santificam e imagens que corrompem, há sons que elevam e sons que degradam. A música clássica, enquanto linguagem da ordem, é um remédio contra a tirania do caos. É uma forma de catequese sonora, que ensina à alma o gosto pela contemplação, pela elevação, pela transcendência. Em última instância, é uma prefiguração do que será o eterno louvor no Céu, onde os salmos não cessam, e onde o mal, por fim, será silenciado.