Vamos à Belém, ali acharemos o Coração de Jesus Menino que se revela à nossa Fé.
Para contemplar com amor e ternura o nascimento de Jesus Cristo, devemos pedir ao Senhor o dom de uma fé via. Se entramos sem fé na gruta de Belém, teremos apenas sentimentos de piedade. Aqui a fé de ser nossos guia e nossa luz: com ela veremos e admiraremos; esperaremos e seremos cumulados de bens; amaremos, e nosso coração dilatar-se-á (Is 60,5). A fé nos conduzirá à confiança, a confiança ao amor, e o amor nos introduzirá no Coração de Jesus.
Todo o mistério exige nossa fé, mas principalmente o mistério da Encarnação; porque, permitido este, todos os outros tornam-se críveis na palavra mesma do Verbo Encarnado. Entremos na gruta, mas entremos esclarecidos pela viva luz da fé; sem ela, que veríamos? Um nascimento em tudo ordinário. Mas com fé veremos que este Menino novo que Deus devia criar, tendo um coração novo, delícias do paraíso, objeto dos afetos e complacências do Pai Celeste.
O homem privado da fé não veria no presépio senão um menino como qualquer outro; o cristão vê ali o Verbo feito carne, tendo um Coração de carne como o nosso, mas animado pelo amor eterno que o fez descer sobre a terra para atrair o homem para Deus; vê ali o Filho único de Deus, igual a seu Pai, eterno como seu Pai, onipotente como seu Pai, imenso, sábio, feliz, soberano Senhor do céu e da terra, dos anjos e dos homens, mas que, para dar seu Coração ao homem e para o resgatar, abateu-se até tomar a forma de servo, revestindo-se de carne humana.
Ah! Se a fé não nos desse certeza disto, quem poderia crer em tal prodígio!
Sem o olho da fé, não veríamos neste berço de palha senão um menino estranho, que nada tem de comum conosco; mas tendo a fé por guia, veremos nele um irmão muito amado. Ó homem, considera este prodígio, exclama Santo Agostinho: eis que teu Deus tornou-se teu irmão! Ele se fez filho de Adão como tu; tomou olhos, mãos, pés, enfim um coração de carne, semelhantes aos teus. O’ excesso de amor divino ! Estando mortas para a graça todas as almas às quais impossível era renascer por suas forças só para a vida, o Filho de Deus, movido pelas entranhas de sua misericórdia, desceu do céu para ressuscita-las. Mas, Senhor, que é o homem, este ser desprezível, tão ingrato para convosco; que é o homem para que o torneis tão grande, honrando-o e amando-o deste modo? Dizei-me, ó meu Deus, que vos importam a salvação e a felicidade do homem? Porque lhe sois tão apegado, que vosso coração não parece ocupado senão em o amar e o tornar feliz?
Prática
Do fundo do meu coração direi: Creio firmemente que o Filho de Deus se fez homem, que o Evangelho é sua palavra, que a Igreja é sua obra, que o Papa é seu vigário infalível. Creio, pois, tudo o que a Igreja manda crer; rejeito tudo o que ela reprova.
Afetos e Orações
Terno e amável Menino, embora eu vos veja tão pobre nesta palha, reconheço-vos e adoro-vos como sendo meu Senhor e meu Criador. Compreendo o que vos reduziu a tão miserável estado; é vosso Coração, é vosso amor para comigo. Ó meu Jesus, quando, após isto, penso no modo pelo qual vos tratei no passado, nas injúrias que vos fiz, espanto-me de que tenhais podido suportar-me. Ah! Que malditos pecados, que tendes feito? Enchestes de amargura o Coração dum tão bom Senhor! Por piedade, caro Salvador meu, pelos padecimentos que sofrestes e pelas lágrimas que derramastes no presépio de Belém, dai-me tão grande dor, que me faça chorar toda a minha vida os desgostos que causei. Abrasai-me de amor para convosco, mas de amor tal que compense todos os meus crimes contra vós. Eu vos amo, terno Salvador meu, eu vos amo, ó Deus feito menino por mim! Eu vos amo, meu amor, minha vida, meu tudo! Prometo-vos não amar de agora em diante senão a vós. Ajudai-me com vossa graça, sem a qual nada posso. Ó Maria, minha esperança, do Coração de vosso divino Filho alcançais tudo o que quereis; rogai-lhe que me conceda seu santo amor. Minha Mãe, atende-me.
Oração Jaculatória
Ó Coração adorável, iluminai aqueles que não vos conhecem.
Exemplo
Grande movimento para a Igreja Católica se opera entre os muçulmanos da Síria desde 1868. Num dos arrabaldes de Damasco um certo Abd-el-Rarim-Matar tinha costume de reunir seus discípulos, em numero de sessenta a setenta, e passar com eles uma parte das noites em oração diante do trono da graça, pedindo para serem esclarecidos. Estas súplicas enterneceram o Coração de Jesus.
Depois de terem perseverado algum tempo nesta nova estrada, alguns entre eles começaram a ser abalados na sua falsa crença e a serem atormentados por duvidas. Dois anos se passaram neste estado de ansiedade, sem que nenhum suspeitasse dos outros as torturas que afligiam as consciências de todos. Enfim receberam numa visão a segurança, que a religião de Jesus Cristo lhes daria a paz que buscavam. Todavia, tal era o medo que tinham de ser traídos, que nenhum deles ousou confiar o segredo a seu vizinho.
Uma noite, mais ou menos quarenta e dois entre eles reuniram-se, como de costume, para orar, e, após prolongados exercícios de devoção, adormeceram; então Nosso Senhor se dignou aparecer a cada um deles em particular. Todos acordaram ao mesmo tempo, espantados e agitados, e um deles animando-se, contou aos outros a visão que tivera. Um por um foi dizendo então: Eu também vi! Tão consolados e confortados foram por Cristo que, determinados a seguir sua lei, ansiavam, cheios de imensa alegria, sair logo pelas ruas proclamando a divindade de Jesus.
Foi necessário recordar-lhes que com isto só conseguiriam exacerbar os ânimos dos judeus, os quais os matariam, ficando por isto a cidade privada de toda a esperança de converter-se a exemplo deles. Precisavam estes novos cristãos dum diretor para suster seus passos vacilantes no novo caminho em que tinham entrado, e rogavam a Deus para que, na sua misericórdia, se dignasse lhes enviar quem lhes satisfizesse os desejos.
Uma noite, após seus exercícios ordinários de devoção, adormeceram e viram-se transportados em sonho a uma igreja Cristã, onde um velho de barbas brancas, vestido de sarja escura e tendo uma vela acesa na mão, passou diante deles sorrindo com benevolência e repetindo-lhes estas palavras:
Aqueles que buscam a verdade sigam-me.
Acordando, contaram o sonho uns aos outros, e combinaram pôr-se á procura da personagem que lhes aparecera. Durante três meses andaram nesta diligencia pela cidade e arredores, sem cessarem de orar. Certo dia aconteceu, que um dos neófitos entrou casualmente no convento dos Padres da Terra Santa, situado ao nordeste da cidade de Damasco. Quão grande foi sua surpresa ao reconhecer na pessoa do superior padre Manoel Forner a personagem que lhe havia aparecido em sonho! Todos lhe testemunharam o desejo de receber o batismo. Depois da experiencia recomendada pela prudência, o padre Forner acedeu ao seu pedido. No fim de algum tempo, o numero dos neófitos ascendia a 250.
Também a atenção dos muçulmanos não tardou a ser atraída para eles. Os ulemas de Damasco ficaram consternados, e finalmente, numa reunião, resolveram matar os neófitos. Quatorze deles foram retidos na prisão durante três meses; depois, à exigências do cônsul da Rússia, foram postos provisoriamente em liberdade. Mas doze foram novamente capturados e transportados para uma das fortalezas de Dardanelos, ao mesmo tempo que seus filhos e mulheres morriam de fome em Damasco.
Enfim, foram desembarcados na costa de Barbaria, d'onde foram desterrados em Murzuk. Mas estas severidades, longe de abafarem o movimento, não fizeram senão dar-lhe mais força, e hoje existem, segundo afirmam, só na cidade de Damasco, mais de cinco mil neófitos. (Tablet, 1871.)


