
Mês do Sagrado Coração de Jesus
Meditação – Mês do Sagrado Coração de Jesus – 12º dia
Santo Afonso Maria de Ligório
12 Jun 2025
Tempo de leitura: 8 minutos
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Vamos a Nazaré, ali acharemos o Coração de Jesus glorificando seu Pai pelo trabalho
Novo prodígio de amor; um Deus que trabalha! Sim, Jesus se submeteu a uma vida penosa para nos mostrar o amor de seu Coração. Vede o simples operário na casa de Nazaré, e empregado por Maria e José devia trabalhar, ore em reunir as maravalhas destinadas ao fogo, ora em varrer a casa, em carregar água, em abrir ou fechar a carpintaria. São Basílio diz que, sendo Maria e José pobres e obrigados a viver de seu trabalho, Jesus, para exercer a obediência e lhes testemunhar o respeito com nossos superiores, procurava fazer, quanto humanamente podia, tudo o que havia penoso na casa. Um Deus que serve! Um Deus que trabalha! Ah! Um só destes pensamentos deveria bastar para nos abrasar e consumir de amor.
Não havia na Sagrada Família servos nem servas; o único servo que havia na casa era o Filho de Deus, que tinha querido fazer-se Filho do homem, isto é, de Maria, para tornar-se humilde servo e obedecer como tal a um homem e a uma mulher.
Ah! Quem poderia considerar atentamente a Jesus neste estado, trabalhando com dificuldade, sem reclamar: Mas que! Amável moço, não sois aquele Deus que, por um sinal, tirou o mundo do nada? Como então vos é agora preciso suar todo o dia para desbastar esta madeira, sem contudo o conseguirdes? Como vos tornastes tão fraco? Ó santa fé! Ó amor de um Deus! Sim, repito, este pensamento, se o penetrássemos bastante, deveria, não só nos abrasar, mas ainda nos consumir de amor. Eis aqui então até onde chegou um Deus.
Adoremos todas estas obras servis de Jesus, sabendo que todas elas eram divinas e infinitamente agradáveis a Deus, pois eram oferecidas continuamente pelo Coração do Salvador, com o fim único de lhe agradar e operar a nossa salvação.
Nós também trabalhamos, é verdade, mas muitas vezes sem merecimento, porque falta-nos a pureza de intenção nas nossas obras. Oh! Quão agradável é ao Sagrado Coração a intenção de agradar a Deus no trabalho! Para nos convencermos disto, escutemos as doces palavras que o Esposo divino dirige a cada um de nós: Se quereis me agradar, pode-me como um selo sobre vosso coração, como um selo sobre vosso braço (Cant. 8,6), isto é, fazei que eu seja o único fim de todos os vossos desejos e de todas as vossas obras.
Ele chega até a dizer que, quando uma alma procede assim para lhe agradar; torna-se sua irmã e esposa, e faz-lhe no Coração uma ferida de amor, de sorte que ele não pode deixar de a amar: Tu feriste meu Coração, minha irmã, minha esposa, tu feriste meu Coração por um de teus olhos. (Cant. 4,6). Qual é este olho que fere o Coração de Jesus, o Esposo divino? É a intenção da alma que, em toda obra, só põe a mira em cumprir a vontade do Senhor. Esta alma não obedece aos superiores senão para obedecer a Deus; não faz todas as suas ações senão para glorificar a Deus, segundo a recomendação do Apóstolo: Ou comais, ou bebais, ou fazeis outra coisa qualquer, tudo fazeis para a glória de Deus.
A venerável Beatriz da Encarnação dizia: Nenhum preço poderia pagar a menor coisa que se faz por Deus. Isto é verdade, porque todas as ações feitas para agradar a Deus são atos de amor divino, aos quais o Senhor reserva recompensa eterna. A pureza de intenção é então uma alquimia celeste que muda o ferro em ouro; porque as ações mais comuns, como comer, dormir, trabalhar, recrear. quando são feitas por Deus, transformam-se todas em ouro do santo amor. Também Santa Maria Madalena de Pazzi tinha como certo que uma pessoa que fizesse todas as suas obras com pura intenção, iria direto para o paraíso, sem passar pelo purgatório.
Prática
Terei cuidado, cada manhã, ao acordar, de oferecer a Deus todas as minhas ações do dia, com todas as que o Coração de Jeuss lhe ofereceu durante sua vida. Esforçar-me-ei, além disso, para renovar esta intenção no começo das principais ações, dizendo por exemplo: Tudo para vós, ó meu Deus!
Afetos e Súplicas
Adorável Jesus, eu vos vejo trabalhando e suando numa pobre oficina, como se fosseis o mais humilde dos operários. Para mim é que vos abateis e fatigais desta maneira. Pois empregastes toda a vossa vida por meu amor, fazei, ó meu terno Jesus, que eu empregue também por vosso amor tudo o que me resta de vida. Não considerais meus anos passados, ai! De desordens, anos de pecados, motivo de dor e de lágrimas para mim como para vós. Deixai-me, de agora em diante trabalhar e sofrer em união convosco na oficina de Nazaré, e morrer depois convosco no Calvário, abraçando a morte que me destinais.
Ó amadíssimo Jesus, meu amor, não permitais que eu vos abandone mais, como fiz outrora. Vós, Deus meu, vivestes oculto, desconhecido, desprezado, suportando numa humilde oficina a maior pobreza! E eu, desprezível verme da terra, busquei as honras e os prazeres, e por estas vaidades, ai! Separei-me de vós, Bem Supremo! Ai, não sejais mais assim, meu Jesus; eu vos amo, e, porque vos amo, não quero viver longo de vós. Renuncio tudo o mais para me unir a vós, ó meu Salvador, oculto e humilhado por amor de mim! Vossa graça me dá muito mais contentamento do que todas as vaidades e gozos terrenos, pelos quais tive a desgraça de vos deixar.
Ó Virgem Santíssima, quanto sois feliz por terdes sido a companheira de Jesus na sua vida pobre e oculta, e terdes sabido vos tornar semelhante a este divino modelo! Oh, minha Mãe, fazei que eu também empregue o resto de meus dias em me tornar semelhante a vós e a meu Redentor.
Exemplo
A venerável Madre Clemencia, da Ordem da Visitação, foi uma dessas almas verdadeiramente extraordinárias que tiveram as mais íntimas comunicações com o divino Coração de Jesus.
Uma noite Jesus Cristo se fez ver a ela como assentado no meio do seu coração, e lhe disse: “Teu coração é para mim e eu sou para ele”. Outra vez, o Salvador gravou seu nome Jesus sobre o coração de sua serva, dizendo-lhe: “Eu aplico meu Coração sobre o teu”. Ela sentiu no mesmo instante seu coração unir-se ao Coração do Esposo divino de maneira admirável.
Clemencia dirigia-se muitas vezes ao Coração de Jesus como o único que era capaz de dar a Deus homenagens dignas dele, e rogava a este divino Coração se dignasse saldar as dívidas que ela tinha contraído para com a majestade divina.
Numa aparição, o Salvador lhe disse, mostrando-lhe seu Sagrado Coração:
“Eis aqui o alvo para o qual deves lançar tuas flechas; estas flechas são os atos de amor; consagra-me teu amor, e ferirás o meu.”
Certa manhã em que alia se aproximava da comunhão, rogou, com muita instancia, a Nosso Senhor para que lhe desse a humildade. Logo o Salvador se dignou unir o coração de sua esposa ao seu, e servindo-se de seu Coração adorável como de um sinete, imprimiu a humildade sobre o de sua esposa. Pediu-lhe depois a doçura, e o divino Mestre lhe disse: “Não pode uma pessoa ter a doçura, sem ter meu Coração, que é a verdadeira fonte dela”.
Outra vez, Jesus Cristo lhe mostrou seu Coração, como uma fonte de água viva, aonde a convidou a ir matar sua sede. Tais foram as relações intimas da Madre Clemencia com o Coração de Jesus. Esta piedosa filha da Visitação era muito estimada por santa Joana de Chantal e pelas mais santas pessoas do seu tempo, como os padres Suffren e Condren.
Outra santa alma viu um dia a Jesus tendo na mão um círculo de ouro, no centro do qual estava um coração. Viu também arqueiros que atiravam setas para esse coração. Uns atiravam de tal maneira que suas setas só chegavam a meio caminho, caindo em terra; outros feriam o círculo e faziam correr dele faíscas; mas os terceiros traspassavam o coração de lado a lado, e ficavam regados do sangue que corria dele.
A alma perguntou o que significava esta visão. Foi-lhe respondido que o círculo de ouro representava a misericórdia de Deus, que continha em si como o maior efeito por ali produzido, o Coração de Jesus com seus merecimentos infinitos; e que os arqueiros representavam três sortes de cristãos:
Os primeiros, cujas setas não atingiam o alvo, são os que fazem suas ações sem intenção e por mero costume; os segundos são os que trabalham por bons motivos, mas no seu próprio interesse: por isso é que eles não tocam senão o círculo de ouro da misericórdia de Deus e não recebem senão as faíscas da graça; enfim os terceiros são os que só procuram em tudo agradar a Deus, por isso, alvejam diretamente o Coração de Jesus e o traspassam: também os frutos da Paixão de Jesus Cristo correm sobre eles com abundancia.
(Saint-Jure)